Segurança, Liberdade e Realização
Conceitos naturalmente opostos que
precisam ser harmonizados e equilibrados.
A palavra segurança tem dois sentidos e
ambos ocorrem simultaneamente na prática. Estar seguro significa estar
protegido e preso. O cinto de segurança dos automóveis ilustra bem o conceito.
O guarda também protege e prende. Quem está cercado por seguranças, tem pouca
liberdade. Por conseguinte, segurança e liberdade são quase antônimos
perfeitos. O nível de um será inversamente proporcional ao do outro. Quanto
mais segurança tivermos, menos liberdade teremos, e vice-versa. Um conceito
representa o preço que se paga pelo outro.
Regras se prestam à segurança, mas
restringem a liberdade. Motocicleta é símbolo de liberdade, mas se caracteriza
pela insegurança.
Não é possível que se tenha segurança e
liberdade absolutas, muito menos simultâneas.
As transições estão relacionadas à
mobilidade e à liberdade, mas trazem insegurança. Por esta cauda, as mudanças
encontram resistência.
Um emprego oferece alguma segurança
acompanhada de muitas regras que limitam a liberdade e os ganhos individuais. O
empresário, por sua vez, tem muita liberdade e maiores ganhos, acompanhados por
muitos riscos e insegurança.
O casamento oferece segurança em alguns
aspectos e reduz a liberdade pessoal dos cônjuges, mas quem opta por conservar
a liberdade da vida de solteiro, associada à liberdade sexual, assume os riscos
da solidão, das doenças venéreas e do sentimento de incompletude.
Segurança é algo bom e necessário, mas,
em excesso, causa inutilidade das coisas e dos seres.
Um pássaro sozinho numa gaiola dentro
de casa está bem seguro, mas tem pouca utilidade e nenhuma liberdade.
Quem quiser segurança total, ou a
máxima possível, abdicará de sua liberdade, tornando sua vida inútil e
desprovida de realizações.
Um carro desligado e trancado numa
garagem pode estar bem seguro. Tal condição também garante sua inutilidade
durante o mesmo período.
Algumas situações de segurança são
necessárias durante o tempo apropriado. Depois, podem configurar comodismo e
inutilidade. Exemplos: filhos na casa dos pais e o navio no cais.
A liberdade é boa, mas não devemos ser
mais livres do que convém: sem líder, sem limites e sem lei. Muitos clamam
legitimamente por liberdade porque estão presos e escravizados; outros o fazem
porque desejam ser livres para errar. Assim, abrem mão de sua segurança para o
seu próprio dano e o de outras pessoas.
Quem quiser ser totalmente livre
assumirá riscos cada vez maiores, variados e frequentes.
Viver é Arriscado
O que fazer? Precisamos de um
equilíbrio consciente entre liberdade e segurança, buscando ambos dentro de
patamares razoáveis, respeitando a ética, os compromissos, valores e princípios
cristãos. A responsabilidade estabelece o equilíbrio.
Acelerador é liberdade. Freio é
segurança. Precisamos ter os dois e, principalmente, saber quando e como
utilizá-los. Durante a noite, priorizamos a segurança. Durante o dia, a
liberdade.
Aqueles que esperam 100% de segurança
para darem um passo na vida nunca sairão do lugar. Nunca crescerão por
iniciativa própria. Assim, evitam o crescimento profissional, não se casam nem
assumem o ministério. Anulam suas vidas.
Viver é arriscado. Precisamos correr
riscos, mas não qualquer risco. Buscando um pouco mais de liberdade, abrimos
mão de alguns aspectos da segurança. A incerteza que o processo traz pode e
precisa ser controlada pelo conhecimento adquirido, que possibilitará o domínio
da ação pretendida.
Para nossa segurança, precisamos de
portas, mas devemos abri-las, no tempo certo, para vivermos nossa liberdade.
Como temos vivido? Fechados para o mundo e para as pessoas à nossa volta?
(Jz.18.7). Também não podemos viver abertos a tudo e a todos, receptivos a
todas as ofertas e situações que surgem.
Seguros na Obediência
Queremos que Deus nos proteja, mas
desejamos ser totalmente livres, andando por caminhos que nos pareçam bons.
Contudo, a proteção divina está condicionada à nossa obediência (Dt.28.58,66;
Pv.1.33). A suposta liberdade do rebelde é libertinagem (Gal.5.13; IPd.2.16).
Mesmo seguros na obediência, não
anulamos nossa liberdade. Aí reside o risco natural da vida. No exercício da
nossa vontade, do livre-arbítrio, poderemos sofrer algum dano. Não vamos
colocar a culpa em Deus, como muitos fazem. Por quê Deus permitiu isso? Deus só
não permitiria, se tirasse nossa liberdade.
Segurança X Fé
Nosso relacionamento com Deus pode
exigir algumas decisões que parecem loucura aos olhos humanos pelo fato de
serem contrárias aos padrões mundanos. Aceitar os desafios de Deus para nós
pode parecer muito arriscado.
Imagine os riscos que Abraão assumiu
quando resolveu sair de Ur dos Caldeus em obediência à ordem de Deus. Ele
precisou abrir mão do conforto e da segurança de sua cidade. Isto só foi
possível pela fé. O Senhor nos oferece garantias, mas não um caminho isento de
percalços.
Podemos comparar o velho rico, Abraão,
com o jovem rico mencionado no Novo Testamento (Mt.19.16). Ambos receberam
propostas do Senhor que poderiam parecer muito arriscadas. O jovem rico
preferiu a aparente segurança das riquezas e ficou preso por elas, perdendo a
oportunidade das grandes realizações que teria com Cristo.
A primeira parte da nossa vida, a
infância, é o tempo de aprendermos os limites, as regras, submetendo-nos à
máxima segurança possível. A idade adulta é tempo de romper alguns limites, com
responsabilidade, procurando alcançar e realizar os nossos sonhos e, sobretudo,
o propósito para o qual existimos. Saia do cais e ganhe o mar, antes que seja
tarde.
Autor: Pr Anísio Renato de Andrade
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