O
crescimento segue tendência geral da população brasileira --o aumento de
evangélicos foi de 61% entre 2000 e 2010, e o grupo corresponde a 22% dos
brasileiros. Mas com a peculiar característica de ser impulsionado por
organizações que tentam levar a evangelização mesmo a áreas isoladas.
Assembleia
de Deus fala em eleger mais de 5.500 vereadores
A
organização de grupos evangélicos com essa missão tem aumentado, afirma Carlos
Travassos, coordenador-geral do setor que monitora tribos isoladas e de recente
contato na Funai (Fundação Nacional do Índio).
O trabalho
conta até com apoio logístico de aviões em áreas de difícil acesso, graças à
Asas de Socorro, uma das 15 agências missionárias evangélicas filiadas à AMTB
(Associação de Missões Transculturais Brasileiras).
Bancadas por
igrejas, empresas e voluntários, são ligadas a várias denominações e fazem
ações de ensino, assistência social e treinamento de líderes indígenas.
O
treinamento é a base da ideia da "terceira onda" evangelizadora:
depois de missionários brancos estrangeiros e brasileiros, chegou a vez de os
próprios índios atuarem.
A maioria
dos índios evangélicos é ligada à Assembleia de Deus, 31% do total ou 64.620
pessoas. Em segundo lugar vêm os batistas, com 17%, ou 35,5 mil pessoas.
Em Chapada
dos Guimarães (MT) funciona a Ami, escola para índios cujo lema é formar
"discípulos de Jesus Cristo" e criar uma igreja "genuinamente
indígena em cada tribo do Brasil".
Eles são
preparados para repassar os conhecimentos aprendidos a suas comunidades
--"da maneira deles", diz o pastor indígena Henrique Terena,
presidente do Conplei (Conselho Nacional de Pastores e Líderes Evangélicos
Indígenas), que se define como o maior movimento evangélico indígena do país.
Na última
semana, o Conplei organizou na Ami um congresso que reuniu cerca de 2.500
pessoas, com 81 etnias do Brasil e de outros países, segundo a organização.
Eles
comemoraram o marco simbólico da primeira evangelização indígena, quando
missionários escoceses chegaram à aldeia de índios terenas, em 1912, em área
hoje de Mato Grosso do Sul.
Também
retrato de tendência nacional, o percentual de católicos indígenas também caiu
nos últimos dez anos, de 59% para 50,5% da população indígena.
A Igreja
Católica, com missões iniciadas no século 16, está presente em 185 povos, com
missionários ligados ao Cimi (Conselho Indigenista Missionário). A AMTB diz
atuar com 182 etnias.
ATRITOS
A penetração
religiosa já foi foco de atritos com a Funai. Em 2005, a fundação criticou o
grupo Jovens com uma Missão, que retirou crianças de uma aldeia no Amazonas
para tratamento médico em São Paulo.
Nos anos 80,
integrantes da Missão Novas Tribos foram expulsos da tribo isolada dos Zo'é, no
Pará, depois que os índios contraíram doenças.
A Funai
vetou em 1994 a abertura de novas frentes missionárias, a não ser as que fossem
convidadas pelas comunidades. O entendimento é que os povos têm autonomia para
autorizar a entrada.
Para
Travassos, a relação de missionários com povos isolados é prejudicial, por
impor uma nova forma de ver o mundo. Os evangélicos negam qualquer imposição.
EVANGELIZAÇÃO
Para a AMTB
(Associação de Missões Transculturais Brasileiras), que reúne organizações de
missionários evangélicos, as ações em comunidades indígenas respeitam a cultura
e o direito de escolha dos índios.
Em manifesto
divulgado em 2009, a AMTB aponta diferença entre o trabalho de evangelização
com a "catequese histórica e impositiva".
"Se as
culturas são móveis e mutáveis, por que as mudanças provocadas a partir do
conhecimento dos valores cristãos e do evangelho despertam tantas e tão
violentas reações quando se trata de culturas indígenas?", diz.
A associação
diz não ter ligação com nenhuma denominação específica.
A AMTB
afirma que as missões executam projetos sociais que ajudam na preservação
linguística e cultural desses povos.
O pastor
Henrique Terena, presidente do Conplei (Conselho Nacional de Pastores e Líderes
Evangélicos Indígenas), diz que os trabalhos ensinam técnicas de plantio e
atuam no combate ao alcoolismo, por exemplo.
Ele afirma
ainda que, no caso de povos isolados, a atuação ocorre mediante convite das
tribos. (FL)
Fonte:
Jornal Floripa
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