A força do pecado é
proveniente da lei de Moisés? Deus permitiu que o homem pecasse? Como o
homem alcançou liberdade? Em qual mandamento de Deus o pecado achou ocasião e
matou o homem? Estas e outras perguntas serão respondidas neste artigo.
"Ora, o aguilhão da
morte é o pecado, e a força do pecado é a lei" ( 1Co 15:56 )
A força do pecado reside na
lei de Moisés?
Muito antes de Moisés
entregar a lei ao povo de Israel o pecado já exercia o seu domínio no mundo “Pois
antes da lei estava o pecado no mundo...” ( Rm 5:13 ), e a morte já
reinava desde Adão ( Rm 5:14 ). Tais afirmações demonstram que não é a lei de
Moisés que é a força do pecado, pois mesmo sem a lei mosaica o pecado prendia o
homem à morte.
Se a lei de Moisés não é o
que concede força ao pecado, de qual lei o apóstolo Paulo fez alusão? Qual lei
constitui-se a força do pecado?
A resposta encontra-se no
livro do Gênesis: “E ordenou o SENHOR Deus ao homem, dizendo: De
toda a árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do
bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente
morrerás” ( Gn 2:16 -17).
Quando Deus concedeu a sua
ordenança (mandamento) a Adão, assim o fez para preservar-lhe a vida, ou seja,
a comunhão de Adão com Deus. O mandamento foi dado para vida, porém, o que era
santo, justo e bom tornou-se morte, visto que o pecado achou ocasião na
ordenança, e por ele matou o homem.
Qual a força da ordenança? A
força da ordenança decorre da soberania de Deus, que a constituiu, e, por
conseguinte, a ordenança é santa, justa e boa, pois é uma expressão da natureza
de Deus.
Na ordenança havia uma pena
(conseqüência) pré-estabelecida: ‘... certamente morrerás’, e na morte, que é
um aguilhão, ou a pena prevista, o pecado prendeu todos os homens, sujeitando-os
por toda existência a servi-lo ( Hb 2:15 ).
O pecado refere-se a uma
condição pertinente a humanidade após a ofensa de Adão. Esta condição é
resultado de uma pena imposta após uma condenação: alienação da glória de Deus,
separados da vida que há em Deus, portanto, mortos ( Rm 5:18 ).
O que prende o homem à
condição denominada pecado é a morte, a pena prevista pela ordenança de Deus, e
através da ordenança que era para vida o pecado ‘achou’ ocasião (meio, modo) e
matou o homem.
Qual o objetivo da ordenança
dada por Deus no Éden?
Preservar a relação que o
homem possuía com Deus (vida, luz, verdade, justiça, santidade, etc.);
Estabelecer e conscientizar o
homem da total liberdade que possuía “De toda a árvore do jardim
comerás livremente...” ( Gn 2:16 );
Não deixar o homem desavisado
(inocente) do risco que o cercava "O avisado vê o mal e esconde-se;
mas os simples passam e sofrem a pena" ( Pr 27:12 );
O alerta ‘dela não comerás’
demonstra uma relação de confiança, que preservaria a condição do homem.
A ordenança dada por Deus era
santa, justa e boa, porém, o pecado mostrou-se excessivamente maligno, pois
encontrou ocasião na ordenança que era para vida, e através da ordenança matou
o homem ( Rm 7:13 ).
A força do pecado é anterior
a lei de Moisés, pois antes da lei mosaica a morte já reinava em decorrência da
ofensa de Adão ( 1Co 15:22 ).
Adão não precisava realizar
obra alguma para cumprir a ordenança, antes bastava confiar em Deus, porém Adão
não confiou (descansou) e desobedeceu ao Criador.
Adão não tinha qualquer
obrigação, e podia comer livremente de todas as árvores do jardim, inclusive
das duas árvores plantadas no meio do jardim: a árvore da vida e a árvore do
conhecimento do bem e do mal. Mesmo com o alerta acerca da conseqüência quanto
ao comer do fruto do conhecimento do bem e do mal, Adão não preferiu a
ordenança que era para a vida e comeu do fruto do conhecimento do bem e do mal.
O aguilhão do pecado não é
proveniente da lei de Moisés, antes é proveniente da lei que causou a alienação
de Deus. Por causa da lei santa justa e boa que diz: ‘... certamente
morrerás’ ( Gn 2:17 ), o pecado encontrou ocasião na força da lei, e por
ela aprisionou o homem ( 1Co 15:56 ).
Qual a força do pecado? A
irrevogabilidade da lei tornou-se a força do pecado.
Através da ordenança que diz: ‘...
certamente morrerás’ ( Gn 2:17 ), por causa da transgressão de Adão o
pecado encontrou a força necessária para aprisionar o homem. Sem o mandamento
não existiria para o homem a possibilidade de alienação de Deus, ou seja, o
pecado estaria morto ( Rm 7:8 ).
O mandamento de Deus foi dado
para preservar o homem em comunhão com a Vida, porém, após dar ‘ouvido’ à
serpente, o homem ‘achou’ que o mandamento era para a morte, pois entendeu que
ainda não estava pleno de Deus ( Rm 7:10 ; Gn 3:5 ).
O homem entendeu que não ter
o conhecimento do bem e do mal era o mesmo que não ter a plenitude de Deus,
porém, plenitude é estar em comunhão com Deus.
Pela lei santa justa e boa,
que visava preservar a comunhão do homem com Deus, o pecado achou ocasião,
mostrando-se excessivamente maligno, pois pelo bem (lei) encontrou a força
necessária para alienar o homem de Deus, e, assim, enganou e matou o homem ( Rm
7:11 ).
O homem perdeu a comunhão, a
glória, a vida e a liberdade! Por natureza o homem passou a ser filho da ira e
da desobediência, alienado de Deus e escravo do pecado ( Ef 2:2 -3 ). A
condição de Adão passou a todos os seus descendentes. A morte veio por um homem
e todos os homens morreram em Adão ( 1Co 15:21 -22). Um pecou, todos os seus
descendentes pecaram ( Rm 5:16 ).
Um cético pode perguntar: se
Deus sabia que o pecado operaria a morte através do mandamento santo, justo e
bom, porque concedeu indiretamente ocasião ao pecado ao estabelecer o
mandamento? Porque somente através do mandamento se estabelece a liberdade. Se
não houvesse o mandamento não haveria liberdade.
Quando Deus instituiu a
perfeita ordenança, a da liberdade, dizendo: “De toda a árvore do jardim
comerás livremente...” ( Gn 2:16 ), somente com a ressalva a liberdade se
estabeleceu: “... mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não
comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás”( Gn 2:16 ).
Deus estabeleceu plena
liberdade, e o diabo enfatizou proibição total: “É assim que Deus disse:
Não comereis de toda a árvore do jardim?” ( Gn 3:1 ). Deus é o autor da
liberdade ( 2Co3 :17 ), mas o diabo promoveu a alienação de Deus.
O apóstolo Paulo descreve a
condição do homem destituído da gloria de Deus (pecado) como morto em delitos e
pecados ( Ef 2:1 ; Cl 2:13 ). O homem não dispõe de meios para
livrar-se por si mesmo da condição herdada de Adão, o que o torna comparável a
um escravo.
Diante deste quadro horrendo,
condição em pecado, apareceu a benignidade de Deus para com todos os homens (
Tt 3:4 ). Por ser riquíssimo em misericórdia, mesmo os homens estando
mortos em delitos, anunciou: "Inclinai os vossos ouvidos, e vinde a
mim; ouvi, e a vossa alma viverá...” ( Is 55:3 ; Ef 2:5 ).
Adão morreu por não dar
ouvidos (obedecer) à palavra do Senhor. Não deu crédito à palavra do Senhor,
mas acatou as palavras do pai da mentira, pois desobedeceu ao mandamento que
lhe era para vida.
São diferentes: o mandamento
que Deus deu no Éden, onde o pecado obteve força, e a lei de Moisés, que
somente serviu de ‘aio’ para conduzir o homem a Cristo. Enquanto a ordenança no
Éden era para preservar a vida, a ordenança entregue por Moisés continha uma
maldição para quem não a cumprisse “Maldito todo aquele que não permanecer
em todas as coisas que estão escritas no livro da lei, para fazê-las (...) O
que fizer estas coisas, por elas viverá” ( Gl 3:10 -12).
Nas cartas do apóstolo Paulo
há referencia as duas leis, sendo necessário fazer distinção entre elas para
não ocorrer equívocos quando se interpreta a bíblica.
Por exemplo: considerar que a
lei de Moisés é o que concede força ao pecado dá margem a entender que o pecado
restringe-se às ações ou omissões equivocadas dos homens, o que nega ambos: a
força e o aguilhão do pecado, provenientes da desobediência de Adão.
Daí surge o entendimento que
a força do pecado está nas negativas da lei de Moisés, por exemplo: não
matarás, não furtarás, não roubarás, não dirás falso testemunho, etc., o que
promoverá um entendimento meramente legalista e formalista no combate ao
pecado. Tal compreensão não exclui a força do pecado através da morte do
pecador com Cristo, antes promoverá um evangelho pautado em questões
comportamentais, tais como: formalismo, legalismo, moralismo, etc.
Quando se compreende de modo
correto qual ‘lei’ concede força ao pecado, o interprete enfatizará a crença na
mensagem do evangelho, uma vez que compreenderá porque é necessário ao homem
nascer de novo.
Como o homem morreu porque
não deu crédito a ordenança que era para vida, somente através da fé na palavra
de Deus o homem viverá ( Mt 4:4 ). O aguilhão do pecado (morte) só é ‘quebrado’
quando o homem morre com Cristo, pois após morrer, e ser sepultado, ressurge em
uma nova criatura, criada segundo o poder de Deus, em verdadeira justiça e
santidade.
Vale destacar que, na primeira
carta aos Coríntios, todas as vezes que o apóstolo Paulo fez referencia à lei
de Moisés, o fez em um contexto que não é possível desvincular a palavra ‘lei’
do povo judeu, ou do seu preceptor, Moisés ( 1Co 9:8 ; 1Co 9:9 ; 1Co 9:20 ; 1Co
9:21 ; 1Co 14:21 ; 1Co 14:34 ).
Com relação ao verso em tela,
não temos uma referência explicita à lei de Moisés, e aliado a isto, o capítulo
15 da primeira carta aos Coríntios trata de questões próprias ao Éden, do
primeiro Adão e do último Adão, que é Cristo, o que vincula a palavra ‘lei’ a
questões próprias do Éden.
Portanto, o que prende o
homem ao pecado é a morte, condição proveniente da ofensa de Adão e que estava
prevista na ordenança de Deus. Já a força do pecado reside na ordenança
irrevogável: “... certamente morrerás”( Gn 2:17 ).
Através da mesma lei que
estabeleceu plena liberdade o pecado operou a morte, mostrando-se
excessivamente maligno, pois através do bom operou a morte ( Rm 7:13 ). Ou
seja, a ordenança concedida no Éden não estava permitindo que o homem
pecasse, antes estava instituindo a liberdade.
Perguntas e respostas:
1) A força do pecado é
proveniente da lei de Moisés? Não! É proveniente da ordenança que foi dada
ao homem no Éden.
2) Deus permitiu que o homem
pecasse? Não! Através da ordenança demonstrou quão plena era
a liberdade que o homem possuía.
3) Como o homem alcançou
liberdade? Através da ordenança, pois sem a ordenança não haveria liberdade.
4) Em qual mandamento de Deus
o pecado achou ocasião e matou o homem? Na ordenança registrada em Gn 2:17 .
5) Através de qual
elemento o pecado aprisiona o homem? Através da morte ( Hb 2:15 ).
6) Por que a ordenança de
Deus constituiu-se na força do pecado? Porque a ordenança é irrevogável, e o
pecado achou ocasião na irrevogabilidade da lei.
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