A reação de cristãos à notícia de que
um papiro com inscrições em copta (antigo idioma egípcio) traria indícios de que Jesus teria sido casado, foi manifestada com
indignação.
O pastor Renato Vargens repudiou o alarde em
torno da notícia, e afirmou que o que “impressiona é o fato de que existem
cristãos que se deixam influenciar por uma bobagem deste nipe. Ora vamos
combinar uma coisa? Cristãos que se deixam impactar por um pequeno fragmento de
papel, negando assim, as Escrituras demonstram que nunca conhecerem a Cristo”.
O site da editora CPAD classificou o papiro como “fraude”, e ressaltou a
importância de acreditar no que diz a Bíblia: “Diferentemente desses evangelhos
apócrifos, confeccionados pelos gnósticos no segundo, terceiro e quarto
séculos, os quatro Evangelhos – Mateus, Marcos, Lucas e João – foram escritos
ainda no primeiro século, sendo que dois deles foram escritos por dois dos 12
apóstolos de Cristo (caso de Mateus e João) e um outro foi redigido conforme os
relatos ditados pelo apóstolo Pedro (caso do Evangelho de Marcos, o mais antigo
dos quatro). Lembrando ainda que quando os Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas
já circulavam, o apóstolo João ainda era vivo. Por essa razão, esses foram os
únicos Evangelhos aceitos pela Igreja Primitiva como fidedignos”.
Na mesma linha de desconfiança, o
especialista Alin Siciu, papirologista da Universidade de Hamburgo, na
Alemanha, afirmou à agência de notícias Associated Press que a descoberta é uma
farsa: “Eu diria que é uma fraude. A caligrafia não parece autêntica”, afirmou,
fazendo também referências ao aspecto de limpeza do papel.
Karen King, professora da Escola de
Teologia de Harvard que anunciou a descoberta, reconheceu que o papiro datado
do quarto século d.C. não prova que Jesus tenha sido casado: “Esse novo
Evangelho não prova que Jesus foi casado, mas nos diz que toda a questão só
apareceu como parte dos inflamados debates sobre sexualidade e casamento”,
pontuou.
Em entrevista concedida ao jornal Folha de S. Paulo, o especialista em
cristianismo antigo do Instituto de História da UFRJ e do Departamento de
História da Unicamp afirmou que embora a veracidade do documento não possa ser
comprovada, a pesquisadora Karen King merece crédito: “É difícil ter certeza
sobre a autenticidade agora, mas ela tem excelente reputação e foi muito
cuidadosa”, observou.
O bogueiro Hélio Pariz, de O Contorno da Sombra,
ressaltou que a polêmica é inútil por não acrescentar nada realmente novo:
“Muita água ainda vai rolar debaixo dessa ponte. Inutilmente, diga-se de
passagem, mas fornecerá combustível gratuito à fervura requentada e recalcada
das paixões anticristãs e antiortodoxas que grassam no mundo de hoje”.
Já o jornalista Reinaldo Azevedo, colunista da revista
Veja e reconhecido como católico fervoroso, comentou a descoberta e a
relevância do celibato para a crença católica: “Há vários indícios na Bíblia de
que Jesus fosse celibatário, sim, e de que essa era uma orientação entre os
primeiros divulgadores da fé cristã [...] Mas que fique claro: a divindade de
Cristo não tem nenhuma relação com o seu celibato ou não, ainda que o tal
fragmento de papiro fosse suficiente para combater as evidências em contrário.
Assim, o pedacinho de papel é algo que não teria importância central ainda que
se lhe pudesse dar fé histórica”.
Confira abaixo, um infográfico do
jornal Folha de S. Paulo com as informações contidas no pedaço de papiro
descoberto:
Por Tiago Chagas, para o Gospel+
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