Natureza é a “essência ou
condição própria de um ser”. É a “constituição” de ente. É a condição peculiar
àquilo que é em si. Natureza da igreja é aquilo que é inerente ao ser da
igreja. A natureza da igreja é conhecida através de certas qualidades que
constatamos existirem na própria igreja.
Natureza é aquilo que é
inalienável de um ser. Assim, temos de ver o que é a igreja através daquilo que
é inseparável da igreja como igreja, isto é, daquilo que marca uma igreja como
sendo igreja do Novo Testamento.
Alguns aspectos da natureza
de uma igreja neotestamentária:
1- A igreja é “o corpo de
Cristo” (ICo.12.27 ).
A Igreja Universal tem na
igreja local o seu “microorganismo”. A igreja é o corpo místico de Cristo, e
nós somos “individualmente seus membros”. “O corpo é um, e tem muitos membros”,
mas há unidade no funcionamento desses membros no corpo, e “todos os membros…
constituem um só corpo” (ICo.12.12). Há uma harmonia de funções, e tal harmonia
coopera para o bem estar do corpo. Cristo “é a cabeça do corpo da igreja. Ele é
o princípio, o primogênito de entre os mortos, para em todas as coisas ter a
primazia” (Cl.1.18). Cristo é primaz, é o primeiro sobre todas as coisas. Os
membros do corpo não podem agir individualística e egoisticamente, mas
altruisticamente, para o bem do próprio corpo. O corpo humano é um só e tem
muitos membros, e todos estes funcionam sob a direção da cabeça, de modo harmônico.
A falta de comunhão dos membros desse corpo místico de Cristo, a igreja,
evidencia que há doença nos “membros”, que podem ser, ou doentes espirituais
ou, mesmo, ímpios, embora religiosos, aparentemente ente salvos das trevas.
A igreja, sendo o corpo de
Cristo, é uma sociedade nova, divinamente vitalizada, uma nova humanidade
glorificada, em transformação progressiva, que se desenvolve mais e mais na
imagem de Cristo. A igreja, corpo de Cristo, é o corpo dos que tiveram a imagem
de Deus (Gn.1.27) recriada “pela aplicação da obra de Cristo na vida”. Cristo
pôde introduzir no seu corpo, a igreja, a vida de Deus, porque “Ele é a imagem
do Deus invisível, o primogênito de toda a criação” (Cl. l. 15 ), porque é o
verbo que se fez carne e habitou entre nós e em nós (Jo. l.14; 17.23 )
A igreja, corpo de Cristo, é
a expressão de Deus no mundo; “somos para com Deus o bom perfume de Cristo”
(IICo.2.14-15). É preciso ter consciência, é necessário saber que nossos
“corpos são membros de Cristo” ( ICo.6.15).
2. A igreja é “ raça eleita”
(IPe.2.9).
Raça é um agrupamento de
indivíduos que têm ascendência e descendência e vida comuns. A vida comum que
veio para a igreja procede de Deus por Cristo. A igreja é uma seleção divina de
pessoas terrenas renascidas pelo Espírito Santo, herdeiras das muitas moradas
celestiais (Jo.14.2). É raça ideal, “eleita”. É raça escolhida. A igreja foi
eleita antes da fundação do mundo. Sua eleição não foi algo impensado de Deus.
Foi coisa eterna e divinamente pensada, relacionada com “a presciência de Deus
Pai” (Ipe.1.2). Nossa eleição foi consumada “segundo o propósito daquele que
faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade” (Ef.l. l1), e nossas
mentes devem buscar “as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à
direita de Deus” (Cl.3.1 ).
3- A igreja é “sacerdócio
real” ( IPe.2.9 ).
I Pedro 2.5 fala da igreja
como “sacerdócio santo”. A igreja é convocada à santidade, ao império do viver
moral, porque ela compartilha da própria santidade de Deus em Cristo. Nosso
alvo é a perfeição (Mt.5.48). Deus nos elegeu para a salvação, “pela santificação
do Espírito (IITs.2.13). Nossa santificação é alvo dos ensinos
neotestamentários e é uma extensão da santidade de Deus. Os sacerdotes do velho
Testamento apresentavam os pecadores a Deus, para Deus perdoar-lhes os pecados.
Êxodo 19.6 diz da cahal de Deus, a igreja da Velha Aliança, Israel, como sendo
um “reino de sacerdotes e nação santa”, e, segundo Apocalipse 1.6, fomos
constituídos por Cristo “reino, sacerdotes para o seu Deus e Pai”; isto é,
Cristo preparou-nos para sermos para Deus um povo muito especial, real, para
reinar “em vida por meio de um só, a saber, Jesus Cristo” ( Rm 5. 1 7 ).
4- A igreja é “nação santa”
(IPe2.9).
“Raça (, pronuncia-se guénos
), e “nação”(, pode ser pronunciado éthnos: th, como no inglês think), e “povo”
(, cuja pronúncia é laós ) “são meros sinônimos”. Saibamos, irmãos, Deus nos
chamou para sermos nação santa, para estarmos em processo de renovada
santificação, em transformação constante a imagem de Cristo Jesus. Pureza moral
e espiritual é meta que devemos perseguir sem trégua para, com isso, agradarmos
ao Senhor da igreja. Caso queiramos, podemos explorar ir mais os sentidos de
guénos, de éthnos e de laós. Sempre há lições válidas, desde que coerentemente
tiradas.
5- A igreja é “povo de
propriedade exclusiva de Deus” (IPe.2.9).
Somos povo possuído por Deus
e, por isso, devemos ser-lhe agradáveis. De fato, “não podemos agir como melhor
nos pareça”. Fomos adquiridos pelo preço “da expiação pelo sangue de Cristo”. A
Cristo pertence nosso corpo, nossa alma. Quem age como quer ou como melhor lhe
parece, mostra que não é de Jesus, o Cristo. Não pertence ao Senhor, embora
religioso. “Agora sois povo de Deus” (IPe.2.10).
6- A igreja é “lavoura de
Deus” ( I Co.3,9).
Ao homem cabe plantar, regar,
mas só Deus dá vida e crescimento. Nem o plantador nem o que rega é coisa
alguma. Deus é que é tudo. Somos só cooperadores do Senhor. como “lavoura de
Deus”, a igreja deve produzir muitos e bons furtos. Deve estar livre das ervas
daninhas. A igreja é chamada a apresentar “o fruto do Espírito” que é “amor,
alegria paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio
próprio” ( Gl. 5.22). Que lavoura linda para Deus ! O amor é central na vida da
igreja como “lavoura de Deus”. Cada gomo do fruto do Espírito é permeado pela
seiva do amor. Assim, ”a alegria è a força do amor. A paz é a segurança do
amor. A longanimidade é a paciência do amor. A benignidade é a conduta do amor.
A bondade é o caráter do amor. A fé é a confiança do amor. A mansidão é a
humildade do amor. A temperança é a vitória do amor”. Por definição, a igreja é
lavoura de vidas controladas pelo Espírito Santo, produzindo o fruto cheio de
graça para a vida eterna, na unção do Espírito de Deus. Esse fruto
multiplica-se. Na “lavoura de Deus” não há monotonia. Não há “monocultura”. Há
“policultura bendita, divina.
7- A igreja é “edifício de
Deus” (1Co 3.9).
Esse edifício é templo para
Deus morar, habitação apropriada para o Espírito Santo, que jamais pode ser
manchado pelo pecado, seja qual for (1Jo. 1. 7b ).
A igreja como “edifício de
Deus” é construção baseada sobre alicerces firmes, sabiamente colocados. O
alicerce correto, o Único alicerce, intocável, é Jesus Cristo (ICo.311 ).
Pregar “Jesus Cristo, e este crucificado”, eis o alicerce ( l Co.2.2).
Hoje, nós somos os
continuadores da edificação, e Paulo nos adverte: “porém cada um veja como
edifica”, isto é, sobre o fundamento, Jesus Cristo ( I Co. 3.10 ). Quem edifica
deve observar o material usado, as proporções, os compartimentos do edifício.
Pode haver até o perigo de se querer lançar “outro fundamento”, e muitos são os
que tem lançado outro fundamento para as suas igrejas humanas. Com que estamos
construindo para Deus? “Qual seja a obra de cada um o próprio fogo a provará” I
Coríntios 3.11-15 deve ser levado a sério, lá no mais profundo das nossas
almas. É de fazer tremer o maior gigante dos edificadores. O que estamos
fazendo vai ser passado pelo fogo. A “palha” e o “feno” religiosos vão-se
queimar. As “pedras preciosas”, o “ouro”, a “prata”, símbolos das verdades
fundamentais, vão resistir e permanecer. CUIDADO! Deus nos oriente. Amém. Que
mantenhamos os fundamentos de Deus para a igreja, e que sejamos galardoados por
nossas obras sábias de edificação da igreja de Deus. Um texto como de I
Coríntios 3. 14-15, merece que sobre ele reflitamos com a mais absoluta
seriedade, insistimos.
8- A igreja é “santuário de
Deus” (I Co.3.16).
Cada crente verdadeiro tem o
Espírito Santo. A ação maior ou menor do Espírito depende da fidelidade do
próprio, indivíduo, ou, ainda, do propósito de Deus para a vida desse ou
daquele indivíduo, no que acontece à salvação, à fé, à vida, ao progresso
espiritual. É o Espírito de Deus o agente de tudo isso. Sem o Espírito, nada
feito. Cada convertido é morada do Espírito Santo. Logo, a igreja, que é a soma
dos convertidos, é “santuário do Deus vivente” (I co. 6.16), “é santuário do
Espírito Santo que está em vós” ou seja, em nós (I Co 6.19). 0 termo
“santuário”, em I Coríntios 3.16-17, (pronuncia-se naós ), é empregado em
relação ao lugar santo e ao santo dos santos do templo dos hebreus. Ali
entravam os sacerdotes (no lugar santo), e o sumo sacerdote (no lugar santo dos
santos, somente uma vez por ano). Assim, em nosso interior (alma ou espírito;
alma = espírito), Deus, o Espírito Santo, habita. Irmãos, sejamos santos,
porque o Deus que habita em nós é Santo, é Perfeito (Mt. 5.48), I Coríntios
3.17 declara que “o santuário de Deus, que sois vós é sagrado”; isto é, nós
somos os santos de Deus. A santificação plena esbarra no obstáculo do separacionismo
denominacional, por quê? Porque o santuário é um corpo; e um corpo dividido,
obviamente, inviabiliza o exercício em plenitude dessa santificação.
9 – A igreja é a fusão
associativa de cada “nova criatura” em Cristo ( II Co.5.17).
A expressão “se alguém está
em Cristo” é “expressão mística” que designa comunhão do nosso ser com o ser de
Cristo. É por essa comunhão que nosso ser vai-se transformando no ser ou na
imagem de Cristo. A igreja não é associação dos que seguem um mesmo credo, mas
dos que são novas criaturas; não é ajuntamento de pessoas reformadas,
modificadas externamente, mas é o congraçamento daquelas vidas recriadas,
transubstanciadas, transmutadas a partir do cerne, do âmago da parte mais
íntima e interior do seu ser. Igreja é a nova sociedade daqueles que se
desligaram das coisas antigas terrenas, malignas, e se apegaram às coisas
celestiais próprias do novo céu e da nova terra (Cl.3.1,2; II Pe.6.13).
10- A igreja é “sal da terra”
(Mt.5.13).
Um sal misturado com outra
substância pode até ter aparência de sal, mas perde o seu sabor. O sal precisa
ser puro para ser útil. Assim, a igreja precisa ser pura, e, sendo pura será
útil a Deus e ao povo de Deus. A figura do sal, antes de servir como
determinativa das ações de adubar ou dar bom gosto ou, mesmo, de conservar a
comida, alerta-nos para o fato de que a igreja precisa viver na prática diária
do que professa crer.
“O ‘TALMUDE’ mostra que o sal
que não era puro e útil para ser usado nos ritos dos sacrifícios (que eram
oferecidos com o sal ), era lançado nos degraus e declives ao redor do templo,
para impedir que o terreno se tornasse escorregadio, e assim, era pisado pelos
homens”. Com isso, devemos ver que a igreja precisa ser verdadeira, autêntica,
real, para ter dignidade diante de Deus, de si mesma e dos homens que a cercam.
11- A igreja é “a luz do
mundo” (Mt.5.14).
Ai do mundo se a luz se
escurecer, minguar, apagar! A luz é útil. Apague-se a luz em nossas casas e a
inoperância toma conta de nós. Faltou luz no Egito, que foi coberto pela nona
praga, a das trevas, “por três dias” e “não viram uns aos outros, e ninguém se
levantou do seu lugar por três dias; porém os filhos de Israel todos tinham luz
nas suas habitações” ( Ex.10.22-23).
A igreja deve brilhar sem
obstáculos. Sem dúvida, a igreja, vivendo aquilo que diz ser, modificará a
desgraça em graça, a pobreza em riqueza, a morte em vida, o medo em coragem.
Tal igreja-luz será seguida por riqueza de Deus, saúde e vida abundante por
Cristo. A igreja, a soma dos crentes, foi feita “luzeiros” resplandecentes “no
mundo”. “Luzeiros no mundo” ( Fp. 2.5): Quem pode ser? A igreja, povo que foi
iluminado pelo Cristo que é “a verdadeira luz, vinda ao mundo, ilumina a todo
homem”. (Jo.1.9). A igreja, portanto, é constituída dos verdadeiros iluminados
e, assim sendo, deve ser luz do mundo.
A luz reflete a luz do sol. A
igreja é um corpo luminoso, mais que mero refletor, porque em nós habita a
verdadeira luz, que nos dá natureza de luz. Assim, como igreja, somos fontes de
luz para este inundo tenebroso. Qualquer que seja a luz que sejamos, nós o
somos porque “Deus é luz, e não há nele treva nenhuma” e, em Cristo,
iluminou-nos (I Jo 1.5 e Jo. 1.9 ). Assim resplandeçamos perante os homens
através do testemunhos e das boas que falam do Cristo (Mt.5.16), cuja cidade
não tem noite, mas só DIA ( Ap.21. 23,25). Deus nos abençoe com a sua luz.
Somos “filhos da luz” (lTs.5.5 ).
12- A igreja é o corpo
universal de Cristo que engloba todos os filhos de Deus por Cristo, único
Salvador e Senhor; sem limite temporal ou espacial.
A igreja inclui todos aqueles
que foram remidos pelo sacrifício expiatório de Cristo Jesus na cruz. A “Igreja
Universal” é a “Igreja de Deus” (ICo.10.32). Esta difere das “igrejas de Deus”
(lTs.2.14), e nelas se divide, evidente e neotestamentariamente por causa
exclusiva da localidade. E a igreja mencionada em Mateus 16.18.
13- As igrejas são a
corporificação local de todos os filhos de Deus remidos pelo sacrifício
expiatório de Cristo na cruz, existentes na localidade.
A igreja local tem a ver com
o tempo e o espaço. É estreita, é pequena, está ao alcance dos irmãos da
localidade. Ela ouve, analisa, compreende e dá solução para os problemas dos
seus membros. A igreja da localidade engloba, apenas, os salvos que residem na
localidade.
A única permissão do Novo
Testamento para dividir a Igreja Universal em igrejas é a localidade, como já
vimos. Não vemos nas páginas do Novo Testamento nenhuma igreja denominacional,
estatal, nacional, internacional ou mundial. A igreja local aparece em Mateus
18. 17.
Diz o irmão Watchman Nee:
“verificamos que as escrituras falam da “Igreja de Deus” No singular ( I Co
10.32 ), mais encontramos as mesmas Escrituras referindo-se às “igreja de Deus”
no plural ( I Ts 2.14 ). Como esta unidade se torna uma pluralidade? Como foi
que a Igreja, que é essencialmente uma, veio a tornar-se muitas? A Igreja de
Deus se dividiu em igrejas de Deus, por causa da diferença das localidades.
Localidades é a única base bíblica para divisão da Igreja em igrejas” (“A Vida
Normal da Igreja Cristã”, p. 51,3ª edição – 1991).
14 – A igreja é a “casa de
Deus”.
Timóteo deve saber “como se
deve proceder na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo” ( I Tm 3.15 ). Em
Gênesis 28. 11-17, Jacó chamou um certo lugar de “casa de Deus, a porta dos
céus”. Gênesis 28.22 menciona certa “pedra” erigida por Jacó como “a casa de
Deus”. No Velho Testamento, Deus morava no meio do seu povo através de um
lugar, o santuário. Aí, Ele habitava ( Ex. 25.8). Jacó encontrou a Deus num
certo lugar. O povo de Isrrael encontrava a Deus no tabernáculo ou no templo. O
mundo pode encontrar a Deus em nós, pois somos “o santuário do Deus vivente”
“II Co 6.16”. O Mundo pode ver Deus em nós. Somos nós a casa de Deus. Senhor,
habita-nos, somos tua residência. Amém.
No Velho Testamento, foram
casa de Deus: A “pedra” de Jacó, conforme Gênesis 28.11-22; o “santuário”, de
acordo com Êxodo 25.8; o “templo” , segundo Habacuque 2.20. Hoje, vemos que a
casa de Deus, somos nós. Somos o “santuário do Deus vivente” (II Co. 6.16). Timótio
deve saber “como deve se proceder na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo”
( I Tm. 3.15). Essa “casa de Deus é “casa” de Cristo, é tal “casa somos nós”,
diz Hebreus 3.6.
Assim, a igreja é a casa de
Deus. Nós somos a igreja. Logo, somos a casa de Deus.
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